Embora esteja lançando seu primeiro disco agora, o mineiro Wesley Villagrán (nascido em Divinópolis, mas hoje residente em BH), 30, confessa que desde criança nunca teve dúvidas de que seguiria o caminho artístico seria a sua opção profissional. “Na verdade, nem tive muito tempo pra não ser artista, porque comecei muito cedo, aos 6 anos, em um coral da paróquia do bairro. Na sequência, já entrei no Conservatório Estadual de Música Lobo de Mesquita e por aí foi. Nesse meio período, eu quis ser muita coisa, mas sempre na arte – inclusive me graduei em teatro. Então, não tive muita escolha mesmo, não”, ri.
“AfroSulAmerÍndio vol.1”, o álbum do cantor e compositor, traz sete músicas originais. “Além de propor uma reflexão sobre nosso mundo, em nosso tempo, eu realmente gostaria que a música levasse as pessoas por uma viagem de sons. O meu estilo é o worldmusic, porque é muito difícil identificar um único gênero no meu trabalho, por isso quero que as canções despertem nas pessoas uma sensação de estarem em movimento, pulsando, pensando. Que as pessoas se lembrem de outras pessoas e momentos através das músicas, que as coloquem numa manhã ensolarada de sábado, que marquem um relacionamento ou o término dele, essas coisas”, enumera.
Villagrán conta que suas referências musicais viajam pelos sons populares do Brasil e da América Latina. “Como Manu Chao, Calle 13, Mestre Anderson Miguel, Caetano Veloso, Criollo, Baiana System, Susana Baca, Buena Vista Social Club, Orishas, Onda Vaga, Violeta Parra, Mercedes Sosa e Chavela Vargas”, exemplica.
Aliás, foi por meio do Baiana System que o caminho musical do mineiro ganhou tônus. Após concluir o curso de teatro na UFMG, ele voltou à sua cidade natal e foi avisado que um vizinho havia deixado um violão de presente a ele. O instrumento ficou alguns meses parado, mas, “num final de semana qualquer”, ele se propôs um desafio e tirou “Lucro (Descomprimindo)” do grupo. “Fiquei encantado. Daí comecei a tocar mais vezes”, lembra. A composição, diz, veio depois.
Perguntado sobre o conceito de seu disco de estreia, Villagrán ressalta que há duas faixas que acredita sintetizarem sua ideia com “AfroSulAmerÍndio”. A primeira é “Rosário do Rio”, faixa que inicia os trabalhos. “E na qual eu me localizo geográfica e culturalmente por falar do Vale do Jequitinhonha e de Diamantina, dos mestres, corais e figuras importantes que muito influenciaram meu processo. Essa canção também é uma resposta às falas que Diamantina não é Vale do Jequitinhonha (ou seria o 4° Vale). Então, eu saio das discussões sobre tipificação do Vale do Jequitinhonha feitas em mesa de bar e proponho uma canção linda de pertencimento e fortalecimento de laços para os que propõe a separação, e uma canção de orgulho a todos os Jequitinhões”.
A segunda é “Sorte ou Morte”, a faixa 2 (“que, diga-se de passagem, foi, junto a ‘Desatenção’, a minha primeira composição’). “Eu cuspi essa música num sábado pela manhã. Estava muito triste porque estava sofrendo muito por uma pessoa que, olha, sinceramente, nem era tudo isso, e o país estava pegando fogo. Aí eu me culpava por estar sofrendo de amores enquanto o Brasil ruia frente a todos nós. Depois que fiz a melodia da canção e apresentei a meus amigos, eles surtaram, pois quase todos estavam na mesma (risos). E foi por isso que decidi gravar o disco”.
Ele enfatiza que a literatura também contribui bastante no processo composicional. “Quarto de Despejo” (1960), o célebre livro de Carolina Maria de Jesus, por exemplo, inspirou “Muito bem Carolina”. Já “As Veias Abertas da América Latina” (1971), de Eduardo Galeano, foi importante para posicionar, em sua cabeça, o Brasil dentro da cultura do continente. O álbum traz, ainda, “Olha Da Janela (Pra Ver)”, “Outro Golpe Não”, “Samba do Juca” e “Desatenção”, com participação de Rocío Pérez Galán.